REPERCUSSÃO

Polícia investiga uso de suposta bandeira nazista em desfile germânico em SC

Sociedade organizadora nega ilegalidade e afirma combater apologia ao ódio e à exclusão

Caso aconteceu em São Bento do Sul, cidade do Planalto Norte de SC (Foto: NSC/Reprodução)
Caso aconteceu em São Bento do Sul, cidade do Planalto Norte de SC (Foto: NSC/Reprodução)

O uso de uma bandeira em uma festa que celebra a cultura germânica virou caso de polícia. A imagem traz uma mistura de símbolos alemães supostamente ligados ao nazismo. O caso aconteceu no sábado (7), no desfile da 40ª edição da Schlachtfest, em São Bento do Sul.

Em um vídeo, um dos grupos que participou da festa aparece desfilando em um carro antigo. As pessoas usam roupa típica alemã, carregam canecas de chope e uma bandeira. Na internet, o grupo foi acusado de apologia ao nazismo. Com a repercussão, a Polícia Civil investigará o caso.

— Será aberta uma investigação para apurar em quais circunstâncias isso ocorreu e se houve algum tipo de ilegalidade. Ainda é prematuro apontar para um ou outro crime, mas a delegacia especializada da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (DEIC) está ciente e adotando as providências cabíveis — diz o delegado Gil Rafael Ribas, de São Bento do Sul.

Wilson de Oliveira Neto é doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e desenvolveu trabalhos sobre o fascismo histórico e a Segunda Guerra Mundial. Ele explica que a bandeira em questão não tem origem nazista.

— Desde que foi fundada, em 1871, a Alemanha possui diversas bandeiras históricas, muitas delas de natureza militar. Aquilo que foi exibido no desfile era para ser uma representação da Reichskriegsflagge, em uma tradução livre para o português, Bandeira Militar Nacional, a bandeira de guerra do Império Alemão, em uso entre os anos de 1870 e 1918, sendo suas cores branca e preta, pois representam as cores do Reino da Prússia (1701-1918), que liderou o processo de unificação dos antigos Estados Alemães — conta.

Porém, durante o governo nazista, a partir de 1933, a bandeira foi reintroduzida na criação da Wehrmacht, as forças armadas da Alemanhã Nazista, em 1935.

— Como ocorreu com os demais símbolos alemães anteriores ao Nazismo, a Reichskriegsflagge foi nazificada, sendo a águia imperial alemã substituída pela suástica e as cores da Prússia trocadas pelas cores da bandeira nazista, vermelha, preta e branca — cita.

Para o historiador, o que apareceu no desfile é um anacronismo de mal gosto, que misturou a antiga bandeira do Kaiserreich (Império Alemão), que não tem relação com o nazismo, com as cores da Reichskriegsflagge da Wehrmacht, as forças armadas nazistas.

— Sendo bem exato, a bandeira exibida no desfile não é uma coisa, nem outra. O que é menos ruim, pois se a turma está com vontade de inventar tradição e evocar as raízes dos seus ancestrais, que, pelo menos, façam de forma correta — finaliza.

Lia Vainer Schucman, que é doutora em Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) com ênfase em movimentos sociais, comenta que bandeiras que carregam as cores preto, branco e vermelho e que se referem ao Império Alemão têm um apelo nacionalista. Inclusive as cores foram incorporadas pelo nazismo com esse objetivo, pois entendia que a bandeira republicana, com o preto, vermelho e dourado, representavam a decadência e derrota após a Primeira Guerra Mundial.

Apesar de não ser uma bandeira nazista propriamente dita e que se aproxima mais dos tempos "pré-nazismo", a especialista diz que o símbolo pode ou não ser utilizado com "apito de cachorro", ou seja, para empregar uma mensagem em código, que pode passar despercebida.

Já o pesquisador Wilson de Oliveira Neto diz que não enxerga indícios de "apito de cachorro" e que é necessário olhar para os fatos concretos.

A Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento, organizadora da 40ª Schlachtfest, emitiu nota em que afirma que trabalha com compromisso com a ética, o respeito e a dignidade humana. Também diz que não compactua e repudia qualquer forma de apologia, preconceito ou discriminação.

— A associação condena com veemência qualquer manifestação que faça apologia a ideologias que pregam o ódio e a exclusão. Nada obstante, esclarecemos com igual veemência que não se trata, em absoluto, de uma bandeira nazista — diz a nota, que também cita a explicação do professor Wilson de Oliveira Neto.

Por fim, a Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento informa que tomará todas as medidas necessárias para continuar coibindo alusões ou tentativa de alusões a quaisquer ideologias contrárias à legislação brasileira. Também destaca o compromisso com a sociedade e a luta constante pela promoção de uma convivência pacífica, justa e inclusiva.

Fonte: NSC

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