O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi denunciado pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) por tentativa de golpe de Estado para se manter no poder após as eleições de 2022, que deram a vitória a Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT).
O documento foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (18), pelo procurador-geral da RepĂșblica, Paulo Gonet. Segundo a PGR, os denunciados foram divididos em cinco peças acusatórias para otimizar o andamento processual.
Bolsonaro e outras 33 pessoas foram acusadas de estimular e realizar atos contra os TrĂȘs Poderes e contra o Estado DemocrĂĄtico de Direito. Os crimes são:
- organização criminosa armada;
- tentativa de abolição violenta do Estado DemocrĂĄtico de Direito;
- golpe de Estado;
- dano qualificado pela violĂȘncia e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerĂĄvel prejuĂzo para a vĂtima;
- deterioração de patrimônio tombado.
A denĂșncia Ă© a acusação formal contra Bolsonaro e seus aliados, após a investigação da PolĂcia Federal, e foi remetida ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. Em seguida, a Primeira Turma da Corte decide se a denĂșncia da PGR serĂĄ recebida ou rejeitada. Segundo a peça, o plano de golpe de Estado orquestrado pelos denunciados "se desdobrava em minuciosas atividades, requintadas nas suas virtualidades perniciosas". "Tinha no Supremo Tribunal Federal o alvo a ser 'neutralizado'. Cogitava do uso de armas bĂ©licas contra o Ministro Alexandre de Moraes e a morte por envenenamento de Luiz InĂĄcio Lula da Silva", diz Gonet.
Segundo o procurador-geral, os denunciados cumpriram a primeira parte, monitorar os alvos de "neutralização", mas não levaram a cabo o plano. "No dia 15 de dezembro de 2022, os operadores do plano, com todos os preparativos completos, somente não ultimaram o combinado por não haverem conseguido, na Ășltima hora, cooptar o Comandante do ExĂ©rcito", relata o documento.
Mais cedo, Bolsonaro voltou a negar que tenha participado do plano golpista. Em visita ao Senado nesta terça, o ex-presidente afirmou estar tranquilo diante da possibilidade de ser denunciado pela PGR.
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirma que recebeu a denĂșncia com "estarrecimento e indignação" e que o ex-presidente "jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado DemocrĂĄtico de Direito ou as instituições que o pavimentam".
Leia a nota na Ăntegra:
A defesa do Presidente Jair Bolsonaro recebe com estarrecimento e indignação a denĂșncia da Procuradoria-Geral da RepĂșblica, divulgada hoje pela mĂdia, por uma suposta participação num alegado golpe de Estado.
O Presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado DemocrĂĄtico de Direito ou as instituições que o pavimentam.
A despeito dos quase dois anos de investigações  perĂodo em que foi alvo de exaustivas diligĂȘncias investigatórias, amplamente suportadas por medidas cautelares de cunho invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores próximos Â, nenhum elemento que conectasse minimamente o Presidente à narrativa construĂda na denĂșncia, foi encontrado.
Não hĂĄ qualquer mensagem do Presidente da RepĂșblica que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais.
A inepta denĂșncia chega ao cĂșmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa Ășnica delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão por inĂșmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa.
O Presidente Jair Bolsonaro confia na Justiça e, portanto, acredita que essa denĂșncia não prevalecerĂĄ por sua precariedade, incoerĂȘncia e ausĂȘncia de fatos verĂdicos que a sustentem perante o JudiciĂĄrio.
Relatório da PF
No dia 21 de novembro do ano passado, a PolĂcia Federal indiciou Bolsonaro e outras 39 pessoas pelo envolvimento na trama golpista, que incluĂa matar Lula, o seu vice, Geraldo Alckmin, e Moraes.
Cinco dias depois, em 26 de novembro, Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório da PF sobre o inquĂ©rito que investiga o caso e enviou à PGR. O documento apontou que Bolsonaro sabia e seria beneficiado principal do plano golpista orquestrado por militares, dentro e fora do governo, em 2022 após a derrota para Lula urnas.
Um dos pontos citados no documento Ă© que o grupo, atuante desde 2019, liderado por Bolsonaro, criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existĂȘncia de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do paĂs para que a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022 não fosse interpretada como justa, e fundamentar os atos planejados por ele.
AlĂ©m do ex-presidente, os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem (atual deputado federal) tambĂ©m foram citados na investigação.
SBT News