Quando tinha 12 anos de idade, Carlos José Czarnobay, conhecido popularmente por Carlitos, começou a aprender uma das atividades consideradas milenar: sapateiro. Hoje, com seus 86 anos, ele ainda atua profissionalmente. O riograndense nasceu em março de 1938, em Casca. Na época era município de Guaporé. Ele também atuou como juiz de paz por 30 anos, além de liderança na Igreja Católica.
Foi precisamente em junho de 1946 que ele, nos seus 8 anos de idade, veio com sua família morar em Descanso. Para ajudar os pais e suas quatro irmãs, seu Carlitos aperfeiçoou o ofício de sapateiro através de seu pai. Buscou em uma fábrica mais conhecimento, novas técnicas e o manuseio de materiais mais modernos da época.
Antigamente se consertava muita mochila, porque, de acordo com ele, as famílias não tinham um poder aquisitivo como hoje. Além de calçados, seu Carlitos consertava apetrechos gaúcho, suporte para eletricistas, cintos, bolsas, entre outros itens. Também fabricava calçados e botas.
A Sapataria era mais à vista dos moradores. Hoje, está mais reservado em um porão. Mesmo assim, ainda atende alguns pedidos de consertos. "Não me vejo feliz sem fazer alguma coisa", destaca.
Sobre a profissão, entende que muitos produtos vendidos do Paraguai atrapalhou os negócios do ramo e de outros lojistas. Outro fator é com relação às fábricas no Brasil. Na sua opinião, não tem condição de o sapateiro disputar. "A concorrência quer preço, não quer qualidade", entende.
Outras atividades
Seu Carlitos, que concluiu o Ensino Médio com 64 anos de idade, pela Educação de Jovens e Adultos, foi atuante na sociedade descansense. Desempenhou, além da sua profissão, outras atividades que merecem destaque. Agiu como juiz de paz por mais de 30 anos. Quando solicitado, exerceu a função em outros municípios pela comarca na área de abrangência. "Tem gente que brinca comigo, diz que eu "prendi" muita gente aqui em Descanso. Foi boa a experiência", brinca.
O senhor também integrou o Coral Voz da Primavera pela Igreja Católica, além de ser ministro da Eucaristia e fazer parte da diretoria do Conselho Paroquial. "Uma das melhores recordações foi que a gente se apresentou, no quarto andar do Hotel Solaris em São Miguel do Oeste, com cantos natalinos. Tinha uma multidão de gente lá embaixo. Foi gratificante".
Na infância, Czarnobay foi coroinha do padre Francisco Massure, o padre Chico. "Aprendi muito com ele, era democrático e correto. Quando a pessoa assumia, tinha que cumprir. Uma coisa que eu não esqueço que ele dizia nas vésperas das eleições: para votar correto, votar certo, tem que olhar o passado da pessoa", resume.
Sobre Descanso
Czarnobay sente amor muito grande por Descanso. "Fiz muita amizade. Só tenho a agradecer porque o respeito que eu recebo, o que eu semeei, eu quero colher. Graças a Deus estou colhendo", agradece.
Entre os fatos marcantes
"Eu fui doador de sangue por mais de 30 anos. Teve uma senhora que me fez chorar. Disse que eu salvei a vida dela. Isso me marcou profundamente", lembra, emocionado.
Família
Ele casou com Elsa. Da união, o casal teve quatro filhos: Estela Maris, José Carlos, Ieda Maria e Mário Luiz. Faz cinco anos que sua mulher faleceu. Quem mora com ele é um dos seus filhos, o Mário. O senhor tem um neto, seis netas e, recentemente, uma bisneta. Esta última nasceu em San Diego, na Califórnia, nos Estados Unidos. Ele ainda não a conheceu, mas anseia pelo momento.
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Rádio Progresso FM